terça-feira, 29 de novembro de 2011

Movimento da Luta Antimanicomial solicita providências ao Ministério Público Federal sobre o caos da Saúde Mental no Pará

NO MUNDO SÃO TODOS LOUCOS
MOVIMENTO PARAENSE DA LUTA ANTIMANICOMIAL
Ofício nº 036/2011 – MLA / Núcleo Pará                    Belém, 28 de Novembro de 2011.

Ao Ministério Público Federal


Prezado(a) Senhor(a),


O Movimento Paraense da Luta Antimanicomial – MLA, Núcleo Antimanicomial do Pará, que integra a Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial – RENILA, vem, por meio deste, solicitar o apoio e empenho desse Ministério, para melhorar a qualidade da assistência às pessoas com sofrimento mental e com uso abusivo ou dependência de drogas em Belém e no Estado do Pará, pelo que expõe a seguir.
Se levarmos em consideração que 12% da população sofre com algum tipo de transtorno mental grave e necessita de cuidados diários, nos preocupa, particularmente aqui no Pará, a falta de acesso da população aos serviços de saúde mental. Os serviços existentes são insuficientes e a atenção está centrada apenas nos Centro de Atenção Psicossocial - CAPS. Logo, a luta contra a desassistência em nosso estado é a tradução da nossa luta ANTIMANICOMIAL. Lutamos por uma SAÚDE MENTAL integral, acessível e, que seja pauta constante em nosso cotidiano e em nossas vidas.
Particularmente nos preocupa a situação da Capital do Estado. A cidade de Belém tem uma população de 1.393.399 habitantes (Censo 2010 IBGE) e segundo pesquisas 3% da população apresenta transtornos mentais graves e persistentes e 6% apresenta dependência química. Portanto, para atender a essa população, o Município precisaria de 14 CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), pois, para o Ministério da Saúde, a cobertura ideal em saúde mental requer 01 CAPS para cada 100.000 habitantes.
Contudo, a população de Belém conta com 08 CAPS, sendo que apenas 04 deles estão sob Gestão da Secretaria Municipal de Saúde (SESMA): CASA MENTAL DO ADULTO (CAPS III), CASA MENTAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (CAPS i), CASA AD (CAPS AD II) E CASA MENTAL DE MOSQUEIRO (CAPS I DE MOSQUEIRO) e os outros 04 estão sob Gestão da SESPA. Na prática, o município está mantendo e gerenciando apenas 04 serviços, os quais estão sucateados, sem condições de infraestrutura para oferecer um atendimento digno à população de Belém, a exemplo do que foi evidenciado em reportagens recentes e nas visitas da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Belém, Comissão de Saúde da OAB e Promotores do Ministério Público Estadual a esses serviços, em especial à CASA AD.
Segundo informações obtidas junto ao Ministério da Saúde (informações dos Repasses Financeiros Fundo a Fundo), conforme documentos em anexos, o Município de Belém recebeu no período referente 2010/2011, um montante de recursos do Governo Federal para investir na política de Saúde Mental Álcool e Outras Drogas, em torno de mais de hum milhão de reais, os quais até o presente momento não foram aplicados à melhoria da rede de serviços de saúde mental, álcool e outras drogas.
O referido recurso é o seguinte:
- Mais de hum milhão de Reais para a política de álcool e outras drogas;
- R$ 100.000 para investir no CAPS AD, para que se torne CPA AD III, um serviço 24 horas;
- R$ 150.000 para montar o Consultório de Rua, que atende a essa população;
- R$ 48.000 para melhorar a infraestrutura dos CAPS sob a Gestão Municipal e,
- Criação de outros dispositivos de cuidados na área, importantes como CAPS AD Infanto-juvenil, Centro de Acolhimento Transitório para usuários de álcool e outras drogas e Capacitação em Redução de Danos aos profissionais de saúde.
Ora, se o Governo Federal destinou recursos para os serviços de saúde mental, desde 2010, por que até a presente data tais serviços estão funcionando na maior precariedade, como o exemplo da casa AD que não tem nenhum banheiro funcionando, a modalidade intensivo paralizada e falta de acessibilidade para pessoas com deficiência para os usuários.Os outros serviços também padecem de melhor infraestrutura para funcionamento. Enquanto isso, faltam medicamentos nas Unidades de saúde e nos CAPS para atender à população que sofre com os transtornos mentais.
Diante deste quadro, nos preocupa ainda o processo de municipalização desses serviços, por isso, dentre tantos desafios, o MLA (Movimento da Luta Antimanicomial) reputa como fundamentais para melhorar a assistência às pessoas com sofrimento mental e com uso abusivo ou dependência de drogas no Município de Belém, os seguintes:
1-      Melhorar a rede de assistencial em saúde mental, para que haja Atendimento aos usuários em crise, preferencialmente nos CAPS III (serviços abertos, com leitos de observação 24 horas), tanto para a clientela de AD como a de outros transtornos mentais. Os serviços existentes no município não atendem esse público, o que sobrecarregam o fluxo no atendimento de Urgência e Emergência do Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, ocasionando precariedade no serviço oferecido;
2-      Leitos Psiquiátricos em Hospital Geral para atender o disposto na Lei Federal 10.216/2001. O único Hospital que atende esta clientela é o Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, que não tem estrutura adequada para o acolhimento, deixando usuários contidos em área aberta e expostos ao sol e calor a espera de leito vago (por mais de 24h);
3-      Saúde Mental na Atenção Básica (Unidades Básicas de Saúde, PSF e NASF). O quadro hoje em Belém é ausência organizada de ações de saúde mental. Ocorrendo uma sobrecarga de demanda ambulatorial de controle para o CAPS, os quais deixam de realizar ações de suas especificidades, que é atender os casos mais graves, severos e persistentes de saúde mental. Há casos inclusive de unidades de saúde que estão fechando as portas para atender usuários de saúde mental, como é ocaso da UBS Pedreira;
4-      Residências Terapêuticas para pessoas com transtornos mentais que vivem nas ruas. Este quadro aviltante de violação da dignidade humana representa para nós da Luta Antimanicomial, o pior dos manicômios – o da desassistência e da invisibilidade do louco. Precisamos urgentemente rever nossas Políticas Púbicas para que atendam essa demanda.
5-      Passe livre para os cidadãos com transtornos mentais ou que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas e que estão realizando acompanhamento nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e necessitam do transporte público para terem acesso ao tratamento.
6-      Pagamento das Gratificações de Desempenho (GDI) dos trabalhadores da saúde mental, que não vem ocorrendo de forma regular. Inclusive o Município de Belém está com dívida com Estado, pois deveria repassar o recurso financeiro ao Estado para poder pagar aos trabalhadores e não vem fazendo.

Salientamos que o manicômio que combatemos é do preconceito e do abandono de milhares de sujeitos trancafiados em cárceres privados e abandonados à própria sorte nas ruas de nossas cidades, assim como o do descaso com a Politica de Saúde Mental. Esclarecemos que a ação/intervenção deste Ministério Público Federal é de extrema importância para consolidação da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial no Município de Belém e no Estado do Pará, que prima pela garantia dos direitos humanos e exercício de cidadania dos usuários da saúde mental, álcool e outras drogas.
Neste sentido solicitamos providências desse Ministério Público Federal e aproveitamos agendar Audiência com representação desse Órgão e sugestão de participação do Ministério Público Estadual, Prefeitura de Belém- SESMA e Governo do Estado-SESPA/Fundação Hospital Gaspar Viana, ainda para o mês de novembro ou início de dezembro deste ano.

   Saudações Antimanicomiais!    
      
                                                                                 
                                         Ester Maria Oliveira de Sousa – (91)88492300
Membro da Direção Executiva do MLA – Núcleo Antimanicomial Pará/RENILA





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