terça-feira, 29 de novembro de 2011

Movimento da Luta Antimanicomial solicita providências ao Ministério Público Federal sobre o caos da Saúde Mental no Pará

NO MUNDO SÃO TODOS LOUCOS
MOVIMENTO PARAENSE DA LUTA ANTIMANICOMIAL
Ofício nº 036/2011 – MLA / Núcleo Pará                    Belém, 28 de Novembro de 2011.

Ao Ministério Público Federal


Prezado(a) Senhor(a),


O Movimento Paraense da Luta Antimanicomial – MLA, Núcleo Antimanicomial do Pará, que integra a Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial – RENILA, vem, por meio deste, solicitar o apoio e empenho desse Ministério, para melhorar a qualidade da assistência às pessoas com sofrimento mental e com uso abusivo ou dependência de drogas em Belém e no Estado do Pará, pelo que expõe a seguir.
Se levarmos em consideração que 12% da população sofre com algum tipo de transtorno mental grave e necessita de cuidados diários, nos preocupa, particularmente aqui no Pará, a falta de acesso da população aos serviços de saúde mental. Os serviços existentes são insuficientes e a atenção está centrada apenas nos Centro de Atenção Psicossocial - CAPS. Logo, a luta contra a desassistência em nosso estado é a tradução da nossa luta ANTIMANICOMIAL. Lutamos por uma SAÚDE MENTAL integral, acessível e, que seja pauta constante em nosso cotidiano e em nossas vidas.
Particularmente nos preocupa a situação da Capital do Estado. A cidade de Belém tem uma população de 1.393.399 habitantes (Censo 2010 IBGE) e segundo pesquisas 3% da população apresenta transtornos mentais graves e persistentes e 6% apresenta dependência química. Portanto, para atender a essa população, o Município precisaria de 14 CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), pois, para o Ministério da Saúde, a cobertura ideal em saúde mental requer 01 CAPS para cada 100.000 habitantes.
Contudo, a população de Belém conta com 08 CAPS, sendo que apenas 04 deles estão sob Gestão da Secretaria Municipal de Saúde (SESMA): CASA MENTAL DO ADULTO (CAPS III), CASA MENTAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (CAPS i), CASA AD (CAPS AD II) E CASA MENTAL DE MOSQUEIRO (CAPS I DE MOSQUEIRO) e os outros 04 estão sob Gestão da SESPA. Na prática, o município está mantendo e gerenciando apenas 04 serviços, os quais estão sucateados, sem condições de infraestrutura para oferecer um atendimento digno à população de Belém, a exemplo do que foi evidenciado em reportagens recentes e nas visitas da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Belém, Comissão de Saúde da OAB e Promotores do Ministério Público Estadual a esses serviços, em especial à CASA AD.
Segundo informações obtidas junto ao Ministério da Saúde (informações dos Repasses Financeiros Fundo a Fundo), conforme documentos em anexos, o Município de Belém recebeu no período referente 2010/2011, um montante de recursos do Governo Federal para investir na política de Saúde Mental Álcool e Outras Drogas, em torno de mais de hum milhão de reais, os quais até o presente momento não foram aplicados à melhoria da rede de serviços de saúde mental, álcool e outras drogas.
O referido recurso é o seguinte:
- Mais de hum milhão de Reais para a política de álcool e outras drogas;
- R$ 100.000 para investir no CAPS AD, para que se torne CPA AD III, um serviço 24 horas;
- R$ 150.000 para montar o Consultório de Rua, que atende a essa população;
- R$ 48.000 para melhorar a infraestrutura dos CAPS sob a Gestão Municipal e,
- Criação de outros dispositivos de cuidados na área, importantes como CAPS AD Infanto-juvenil, Centro de Acolhimento Transitório para usuários de álcool e outras drogas e Capacitação em Redução de Danos aos profissionais de saúde.
Ora, se o Governo Federal destinou recursos para os serviços de saúde mental, desde 2010, por que até a presente data tais serviços estão funcionando na maior precariedade, como o exemplo da casa AD que não tem nenhum banheiro funcionando, a modalidade intensivo paralizada e falta de acessibilidade para pessoas com deficiência para os usuários.Os outros serviços também padecem de melhor infraestrutura para funcionamento. Enquanto isso, faltam medicamentos nas Unidades de saúde e nos CAPS para atender à população que sofre com os transtornos mentais.
Diante deste quadro, nos preocupa ainda o processo de municipalização desses serviços, por isso, dentre tantos desafios, o MLA (Movimento da Luta Antimanicomial) reputa como fundamentais para melhorar a assistência às pessoas com sofrimento mental e com uso abusivo ou dependência de drogas no Município de Belém, os seguintes:
1-      Melhorar a rede de assistencial em saúde mental, para que haja Atendimento aos usuários em crise, preferencialmente nos CAPS III (serviços abertos, com leitos de observação 24 horas), tanto para a clientela de AD como a de outros transtornos mentais. Os serviços existentes no município não atendem esse público, o que sobrecarregam o fluxo no atendimento de Urgência e Emergência do Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, ocasionando precariedade no serviço oferecido;
2-      Leitos Psiquiátricos em Hospital Geral para atender o disposto na Lei Federal 10.216/2001. O único Hospital que atende esta clientela é o Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, que não tem estrutura adequada para o acolhimento, deixando usuários contidos em área aberta e expostos ao sol e calor a espera de leito vago (por mais de 24h);
3-      Saúde Mental na Atenção Básica (Unidades Básicas de Saúde, PSF e NASF). O quadro hoje em Belém é ausência organizada de ações de saúde mental. Ocorrendo uma sobrecarga de demanda ambulatorial de controle para o CAPS, os quais deixam de realizar ações de suas especificidades, que é atender os casos mais graves, severos e persistentes de saúde mental. Há casos inclusive de unidades de saúde que estão fechando as portas para atender usuários de saúde mental, como é ocaso da UBS Pedreira;
4-      Residências Terapêuticas para pessoas com transtornos mentais que vivem nas ruas. Este quadro aviltante de violação da dignidade humana representa para nós da Luta Antimanicomial, o pior dos manicômios – o da desassistência e da invisibilidade do louco. Precisamos urgentemente rever nossas Políticas Púbicas para que atendam essa demanda.
5-      Passe livre para os cidadãos com transtornos mentais ou que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas e que estão realizando acompanhamento nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e necessitam do transporte público para terem acesso ao tratamento.
6-      Pagamento das Gratificações de Desempenho (GDI) dos trabalhadores da saúde mental, que não vem ocorrendo de forma regular. Inclusive o Município de Belém está com dívida com Estado, pois deveria repassar o recurso financeiro ao Estado para poder pagar aos trabalhadores e não vem fazendo.

Salientamos que o manicômio que combatemos é do preconceito e do abandono de milhares de sujeitos trancafiados em cárceres privados e abandonados à própria sorte nas ruas de nossas cidades, assim como o do descaso com a Politica de Saúde Mental. Esclarecemos que a ação/intervenção deste Ministério Público Federal é de extrema importância para consolidação da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial no Município de Belém e no Estado do Pará, que prima pela garantia dos direitos humanos e exercício de cidadania dos usuários da saúde mental, álcool e outras drogas.
Neste sentido solicitamos providências desse Ministério Público Federal e aproveitamos agendar Audiência com representação desse Órgão e sugestão de participação do Ministério Público Estadual, Prefeitura de Belém- SESMA e Governo do Estado-SESPA/Fundação Hospital Gaspar Viana, ainda para o mês de novembro ou início de dezembro deste ano.

   Saudações Antimanicomiais!    
      
                                                                                 
                                         Ester Maria Oliveira de Sousa – (91)88492300
Membro da Direção Executiva do MLA – Núcleo Antimanicomial Pará/RENILA





segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Saúde Mental em crise no Pará


O Governo do Estado do Pará acaba de publicar nota oficial ( http://migre.me/6guDQ ) garantindo pagamento da Gratificação de Desempenho Institucional aos trabalhadores dos Centros de Atenção Psicossocial, pelo menos neste 3º trimestre de 2011. Sobre o futuro, só Deus sabe... 
"Segundo a diretora do FES, Celiana Chaves, “o pagamento da GDI do 3º trimestre está garantido, mas o do 4º só será feito em 2012, e ainda não temos nenhuma previsão de como isso ocorrerá”.
Decisão ocorreu após ato público, pacífico, dos trabalhadores dos CAPS com apoio do Movimento Paraense da Luta Antimanicomial e do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde (Sindsaúde) hoje de manhã na porta de SESPA. O grupo, recebido pelo secretário de saúde, reivindicava, além do pagamento imediato da gratificação a que tem direito (para variar, atrasada), um maior empenho e seriedade na condução da política pública de saúde mental no Pará. Hoje o que se vê é superlotação da clínica psiquiátrica do Hospital de Clínicas, precariedade de toda ordem nos CAPS,  além da ausência de dispositivos que garantam a tão sonhada reforma psiquiátrica. 
O abandono da política pública de saúde mental tem como consequências a exposição dos usuários à violência nas ruas, além de dificuldades das famílias em conviver com seus entes queridos em crise. Infelizmente, pessoas que poderiam estar bem, produzindo, criando, vivendo tranquilamente as suas vidas acabam perdidos em um sofrimento sem fim em função da ausência do Estado. Quem conseguiu esquecer as cenas horripilantes da usuária sendo espancada em pleno Ver-o-Peso dia 06/09/11? 

Outra cena que não sairá tão facilmente de nossa memória foi a da mulher, em crise, que por total falta de assistência e problemas na rede de atenção teve que ser contida (amarrada) em um poste por um vizinho para evitar que cometesse o suicídio. A cena ocorreu um mês depois da violência no ver-o-peso, em 05/10/11. 



Lembrando que saúde mental foi uma das áreas de maior crescimento do número de serviços no governo da petista Ana Júlia Carepa. A ex-governadora em seu blog (  http://migre.me/6gvuc )  explica que:   

"No Estado do Pará, conquistamos nos quatro anos do Governo de Ana Júlia do PT, um aumento significativo de CAPS por todo o Estado, de 24 para 57 serviços ao final de 2010."

Sabemos entretanto que quantidade não é suficiente, é preciso que a qualidade destes serviços seja garantida através da continuidade e avanços na aplicação da lei. É o que todos esperamos e o que vamos continuar a cobrar do governador Simão Jatene, do secretário de saúde Dr. Hélio Franco e de todos os secretários municipais. Aliás, por falar em saúde mental em Belém...vem aí mais trabalho para o Ministério Público Federal. Há muito o que se investigar e cobrar. Anotem aí!  #FicaaDica




terça-feira, 22 de novembro de 2011

Música antes de mais nada









Difícil é conseguir expressar em palavras a importância que a música sempre teve pra mim. Não sou musicista, não toco instrumento algum, sou super desafinada, esqueço as letras das minhas canções favoritas...ainda assim não consigo passar um dia que seja sem que a música se faça presente de alguma forma na minha vida. De todas as artes, é a que mais me toca, a que sinto mais próxima, a que mais me encanta. Não é de se estranhar que tenha escolhido um músico pra compartilhar a vida. Acho que assim a gente se entende. Tem horas que as palavras não bastam, tem horas que não sabemos escolhê-las, outras que simplesmente a alma canta. Nessas horas a gente pára e escuta. Tem sido assim comigo desde sempre.
As minhas primeiras canções..."Ciranda da Bailarina" do Chico e minha dança imperfeita com a perfeição (tsc tsc...), "Aquarela", do Toquinho e as imagens de todas as brincadeiras da infância e a noção de finitude. Mais tarde, "Construção", do Chico de novo e o entendimento da injustiça da sociedade que vivemos. E assim fui me tornando eu mesma. As estórias iam acontecendo e sempre havia uma trilha sonora. Vitor Hugo dizia que a a música expressa o que não pode ser dito em palavras mas não pode permanecer em silêncio...é isso mesmo. Ahhhh, tem que ter um espírito iluminado pra vir aqui transformar um impulso eletroquímico em inspiração. Como não ser grata a essas pessoas maravilhosas, que com talento e esforço fazem deste mundo um lugarzinho mais agradável de se viver? Obrigada, músicos...que vocês tenham o seu trabalho reconhecido de todas as formas que merecem, é o que desejo a cada um de vocês. #FelizDiadosMúsicos








Da Música


A música derrama-se
no corpo terroso 
da palavra. Inclina-se 
no mundo em mutação 
do poema. 

A música traz na bagagem 
a memória do sangue; o caminho 
do sol: Lume e cume 
de palavras polidas. 

A música rompe um rio de lava 
por si mesmo criado. Lágrima 
endurecida 
onde cabem o mar 
e a morte. 

Casimiro de Brito, in "Canto Adolescente"



sábado, 12 de novembro de 2011

O Que Você Quer Saber de Verdade

Vai sem direção
Vai ser livre
A tristeza não
Não resiste
Jogue seus cabelos no vento
Não olhe pra trás
Ouça o barulhinho que o tempo
No seu peito faz
Faça sua dor dançar
Atenção para escutar
Esse movimento que traz paz
Cada folha que cair
Cada nuvem que passar
Deixa a terra respirar
Pelas portas e janelas das casas
Atenção para escutar
O que você quer saber de verdade


(Arnaldo Antunes)




terça-feira, 8 de novembro de 2011

Curimatá é aqui. Curimatá não é aqui...

Quem viu a reportagem sobre Curimatá exibida no Fantástico, de 06.11.11? Fiquei impressionada porque o pequeno município do sul do Piauí parece um pequeno circo dos horrores, pelo menos no que diz respeito aos poderes instituídos. Executivo, Legislativo e Judiciário parecem que se merecem em Curimatá. Quem não merece nada disso é o povo.
E pra quem pensa que Curimatá não existe ou não importa porque não vive lá mesmo, preste bem atenção aos 3 poderes do seu estado. São independentes? cumprem o seu papel constitucional? a mim, Curimatá nunca pareceu tão próxima...

Transcrevo agora parte da reportagem e anexo o link para quem quiser ver:




Curimatá tem dez mil habitantes, que convivem com o medo e insegurança. A cidade fica no extremo sul do Piauí, a 775 quilômetros da capital, Teresina. Os prefeitos entram no gabinete de Curimatá e são retirados por ordens judiciais. Batendo um recorde de prefeitos que se revezam na administração. 

A equipe de reportagem foi até lá procurar pelo prefeito atual. Que não estava. “Mas tem o representante! É o Joaquim, que é o controlador do município”, avisa uma moça. 

"Desde o ano de 2008, isso tem sido um problema com frequência em Curimatá. A troca de prefeito", afirma o chefe do controle da prefeitura, Joaquim Alves da Silva. 

A cada troca de prefeitos, a cidade para. "Como nessa cidade, a maioria das pessoas depende de emprego da prefeitura, elas ficam sem saber o que vai acontecer. O comércio para, sem receber dinheiro", diz o professor Ramon Torres. 

"Quem paga com essas brigas políticas é a população, a pobreza. Porque eles são ricos, botam o dinheiro no bolso e os pobres vão sofrer", afirma a dona de casa Quitéria César Leite. 

O prefeito José Arlindo da Silva voltou de viagem. Estava se defendendo em mais um processo de cassação, no Tribunal Eleitoral do Piauí. 

Repórter: Prefeito, o senhor lembra quantas vezes já assumiu a prefeitura e quantas vezes saiu? 
Prefeito: Rapaz, eu não tenho 100% de certeza. Você me pegou desprevenido nessa parte aqui. Mas eu acredito que foram umas quatro ou cinco vezes. 
Repórter: Quando o senhor foi eleito, com uma diferença pequena, menos de 400 votos, não pôde assumir no prazo legal, porque o senhor estava preso em Pernambuco, acusado de roubo de cargas? 
Prefeito: Veja bem, é verdade. 

"De forma bastante lamentável, a Câmara de Vereadores de Curimatá fez uma manobra no sentido de elastecer esse prazo, de 10 dias para 90 dias, no sentido de proporcionar tempo para que o mesmo se desvencilhasse daquela prisão e pudesse vir a tomar posse", explica o promotor de Justiça Rômulo Cordão. 

Repórter: O senhor está sendo acusado de outros crimes, entre os quais, de compra de votos? 
Prefeito: Olha, veja bem. É muito difícil hoje um prefeito que não seja acusado de compra de voto. O difícil é provar. 

Na quinta-feira da semana passada, depois que a entrevista foi gravada, o prefeito José Arlindo foi afastado pela sexta vez em julgamento no Tribunal Regional Eleitoral do Piauí. O TRE mandou marcar uma nova eleição indireta na Câmara de Vereadores de Curimatá para escolher o prefeito substituto no prazo de 30 dias. A cidade fica, mais uma vez, se comando. 

A única agência bancária de Curimatá já foi assaltada cinco vezes. No último assalto, os bandidos ficaram mais de 40 minutos dentro da agência. 

"São assaltos feitos por grupos organizados, que vêm fortemente armados, em caminhonetes. São vários homens e aí, literalmente, fecham a cidade. Eles abordam a delegacia, rendem os policiais, tomam armas e saem atirando. As autoridades do estado do Piauí sabem disso. O secretário de Segurança sabe disso. Mas, infelizmente, não tomam providências", diz o promotor Rômulo Cordão. 

Além de sofrer as consequências do troca-troca de prefeitos, os moradores da Curimatá são reféns da insegurança e da violência. “Para começar, nenhum juiz titular na comarca temos. Nós temos um juiz substituto, da comarca de Redenção", reclama a dona de restaurante Leila Nobre de Carvalho. 

Um dos maiores exemplos de impunidade e insegurança na região é o juiz, que durante dez anos, respondeu pela comarca de Curimatá e hoje, está em prisão domiciliar. Ele é acusado em 11 processos por crimes, inclusive de homicídio. E um caso raríssimo na Justiça: presidiu um julgamento, onde ele deveria estar no banco dos réus. 

Repórter: Ele teria mandado matar e ele mesmo julgou o processo? 
Promotor de Justiça: Julgou e pronunciou o réu. 

O promotor de Justiça Rômulo Cordão acusa também o ex-juiz de Curimatá de acobertar pistoleiros: "Esse pistoleiro, que era procurado há sete anos, estava justamente guardado, escondido na casa do juiz", lembra. 

O juiz tem vários processos, inclusive por venda de sentenças. Ele já foi condenado por um dos crimes, a 11 anos e 8 meses de prisão. 

Na rua, ouvimos também acusações ao juiz Osório Marques. "Eles mataram um filho meu e o finado Zé Carlos. Duas vítimas. Eles mataram em uma hora. Ali é réu, assassino, perigoso. Nunca foi juiz", afirma o agricultor Adão Bispo da Silva. 

Foi feito contato, para que o pai dele responda às acusações. A equipe seguiu o carro com os dois filhos do juiz, pela estrada de terra, no meio da caatinga, por dez quilômetros, até chegar ao lugar do cativeiro domiciliar, para ouvir Osório Marques. 

"Em Curimatá, quem não é de Deus é do Satanás. Vamos exemplificar com nós dois. Tem dois candidatos. Se o senhor vota em João e eu voto em Pedro, eu para o senhor não tenho o mínimo valor. Assim como o senhor, para mim, não tem o mínimo valor. Isso é mais uma questão política do que uma questão jurídica", justifica. 

Ao ouvir que tem um pai que o acusa ter matado o filho dele: "Ele é muito mentiroso!". 

O juiz Osório revela que seu próprio irmão matou o filho do agricultor. “Na verdade, eu tenho um irmão unilateral, um tanto quanto desajuizado, que foi com ele, a mando não sei de quem, e mataram o rapaz", afirma. 

O repórter apresenta uma certidão do Poder Judiciário do estado do Piauí, onde o juiz é acusado em vários processos: por tortura, porte ilegal de arma, lesão corporal, homicídio, posse ilegal de arma de uso restrito e abuso de autoridade. 

Repórter: O senhor não sente remorso, vergonha, arrependimento, de ser um representante da Justiça e estar acusado de tantos crimes? 
Juiz: Eu nunca torturei ninguém. Eu nunca dei tiro em ninguém. Eu nunca matei ninguém. Eu fiz o bem. A raiva que têm de mim é isso. 

O povo de Curimatá espera uma solução contra a impunidade. Todos querem uma chance de viver em paz, em segurança, amparados pela Justiça. Enquanto o gabinete do prefeito volta a ficar vazio: uma cadeira sem dono, em uma cidade sem lei.

domingo, 6 de novembro de 2011

5 meses

Faz hoje 5 meses que o Piu Gibson e eu vimos o rostinho da Manuela pela primeira vez e tenho uma confissão a fazer: nem nos meus melhores sonhos, nos mais bonitos, nos mais especiais eu tinha uma filha tão linda e tão encantadora quanto a Manu. Só tenho a agradecer. Ela vai crescendo, fazendo aniversários (Rsss...), mas o presente é todo nosso. 


Josie Mota e Manuela Mota Gibson em 06.06.11. (5 meses!)
Foto: papai coruja

Sobre os amigos


Tenho pensado sobre amizade nos últimos tempos. É fácil entender o motivo...senti saudades de verdade e por isso tenho resgatado pra minha vida algumas pessoas queridas, importantes pra mim, e que por um motivo ou outro seguiram caminhos diferentes. 
Vou logo dizendo que não tenho muitos amigos. Tenho muitos colegas, companheiros, pessoas especiais com quem gosto de compartilhar momentos de alegria, mas amigos, amigos mesmo, conto nos dedos das mãos e guardo no coração com uma senha de números e letras maiúsculas e minúsculas. Rssss...
Amizade pra mim é um tipo de relação muito intensa, muito verdadeira, de troca, mas também de doação. Não é fácil construir e muito menos manter. Digo isso porque pressupõe confiança mútua (artigo raríssimo nos dias de hoje), respeito às diferenças e muita disponibilidade. Não é algo linear e está sujeita às regras difusas da lógica fuzzy. É por isso que tenho amigos que não vejo há alguns anos, mas sei que quando encontrar vou sentir a mesma tranquilidade pra compartilhar as coisas da minha vida como se tivesse encontrado ontem, e tenho amigos que vejo quase todos os dias e que estão afastados por alguns assuntos que ainda não estamos conseguindo ou ainda não queremos conversar abertamente...tudo bem, tudo tem seu tempo, já aprendi.
É muito importante que cada um de nós saibamos respeitar as escolhas dos outros se quisermos que nossas escolhas sejam respeitadas e que estejamos abertos pra compartilhar o que a vida mandar, seja doce, amargo ou até azedo. Não é fácil, mas vale a pena! e sabe o que mais? depois de encontrar essas pessoas tão queridas descobri que as saudades que eu estava sentindo eram de mim mesma. É simples, o coração sabe, mas a nossa razão esquece (ou finge que esquece): o Eu só existe em relação com o Outro, uma relação entre dois Sujeitos, que se sabem diferentes, mas mesmo assim se gostam e escolhem conscientemente caminhar juntos por aqui...


Compartilho com vocês um texto do Oscar Wilde que diz muito o que penso e sinto sobre amizade. Espero que gostem:

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.

(Oscar Wilde)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A paz, pra quem entende de guerra


"O Vencedor é sempre amigo da paz".
(Karl von Clausewitz)





Nem sempre é fácil entender quando é hora de parar e logo em seguida seguir em frente em outra direção...às vezes a força dos planos, dos sonhos é tão grande que impede que a pessoa enxergue um palmo adiante do nariz, mesmo com todas as luzes acesas, com todas as setas indicando os caminhos. 
Não falo isso da boca pra fora, falo em baixo do manto de quem já viveu e experimentou a dor de ter se iludido e um dia, que não teve nada de belo, ter descoberto que a real, mas a real mesmo era muito diferente do que eu via e queria que fosse. Doeu muito, mas pro meu bem, um belo dia (este sim, belo), cumpri as tarefas mais difíceis, enxuguei as lágrimas, levantei a cabeça e segui em frente. Não foi simples, mas foi o melhor a ser feito. 
Esta lição não é algo que se viva só uma vez na vida, vira e mexe a gente precisa parar e pensar no que nos faz bem e no que nos atrapalha de sermos quem somos de verdade. Se possível a gente deveria fazer isso todos os dias, mas se não for pedir muito, é bom fazer de vez em quando, nem que seja quando alguém nos dá um alerta: "Ei, não perde mais o teu tempo!"


#PAZ

Martelo Bigorna


Muito do que eu faço
Não penso, me lanço sem compromisso.
Vou no meu compasso
Danço, não canso a ninguém cobiço.
Tudo o que eu te peço
É por tudo que fiz e sei que mereço
Posso, e te confesso.
Você não sabe da missa um terço
Tanto choro e pranto
A vida dando na cara
Não ofereço a face nem sorriso amarelo
Dentro do meu peito uma vontade bigorna
Um desejo martelo
Tanto desencanto
A vida não te perdoa
Tendo tudo contra e nada me transtorna
Dentro do meu peito um desejo martelo
Uma vontade bigorna
Vou certo
De estar no caminho
Desperto.
(Lenine)



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Respeita Januário

Hoje, 02.11.11, é dia de finados. Eu, graças a Deus, ainda tenho pai e mãe aqui ao lado. Agradeço porque mesmo com os meus 31 anos de experiência na Terra, ainda acho a vida por demais complicada para prescindir de quem realmente entende das coisas. Outro dia, em um dos nossos passeios de carro ouvindo rádio pela cidade, @PiuGibson e eu ouvimos uma das músicas mais bonitas do Gonzagão e que me fez refletir sobre tudo isso e sobre o quanto devemos ser mais espertos e aproveitar cada minuto de vida com quem realmente importa e se importa com a gente. Espero que todos vocês tenham a mesma sorte que eu de poder contar com os pais...sei que nem sempre é assim. Se há algum mal entendido, corram logo e resolvam o quanto antes. A vida é curta demais, não sobra tempo pra muita bobagem não....Então:

Respeita Januário

Quando eu voltei lá no sertão
Eu quis mangar de Januário
              
Com meu fole prateado
Só de baixo, cento e vinte, botão preto bem juntinho
            
Como nêgo empareado
                                          
Mas antes de fazer bonito de passagem por Granito
Foram logo me dizendo:
                                              
"De Itaboca à Rancharia, de Salgueiro à Bodocó, Januário é o maior!"
E foi aí que me falou meio zangado o véi Jacó:
 
"Luiz" respeita Januário
               
"Luiz" respeita Januário
 
"Luiz", tu pode ser famoso, mas teu pai é mais tinhoso
                   
E com ele ninguém vai, "Luiz"
                  
"Luiz", respeita os oito baixos do teu pai

(Luiz Gonzaga)