Boa Noite amigos,
Como vocês sabem, sou psicóloga e militante da causa
antimanicomial. Luto contra toda forma de exclusão que nosso sistema de crenças
e valores baseado no racionalismo positivista e no capitalismo feroz impõe a
quem não "se adapta" aos moldes do que é hegemônico do ponto de vista
econômico.
A questão é
complexa, deve ser encarada do ponto de vista da subjetividade (afinal, cada um
de nós é um universo único e rico), porém se não for enfrentada do ponto de
vista da coletividade, não sairemos do lugar, pois o sistema é perverso e
provoca adoecimento.
Saúde não pode ser entendida somente do ponto de vista
biológico, e sim como um "completo bem estar bio-psico-social". A
própria Constituição de 1988, mais especificamente de sua Seção II – Da Saúde ,
Art. 196. afirma que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença
e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação.” A possibilidade de “revolução” do
ponto de vista de melhoria de qualidade de vida da população contida neste
texto é incalculável. É um texto que entende saúde não apenas como ausência de
doenças ou do ponto de vista biológico, mas também como resultado de um
contexto sócio-econômico. E vai além, entende que saúde é um direito de todos e
que é dever do Estado que deve ser garantido mediante políticas sociais. Tudo
isto é novidade no Brasil, ainda mais quando mais a frente se fala em acesso
universal e igualitário às ações e serviços.
No que diz respeito a saúde mental, dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS) apontam que cerca de 450 milhões de pessoas ainda estão
longe de receberem assistência adequada, sobretudo nos países em
desenvolvimento. Estima-se que os transtornos mentais e de comportamento
respondam por 12% da carga mundial de doenças, enquanto as verbas orçamentárias
para a saúde mental na maioria dos países representam menos de 1% dos seus
gastos totais em saúde; além do que, 40% dos países carecem de políticas de
saúde mental e mais de 30% sequer possuem programas nessa área. Ainda, os
custos indiretos gerados pela desassistência provenientes do aumento da
duração dos transtornos e incapacitações acabam por superar os custos
diretos.(ONOCKO-CAMPOS e FURTADO, 2006).
Dados epidemiológicos sobre o Brasil,
segundo Onocko-Campos e Furtado (2006) afirmam que o país que tem a prevalência
de 3% de transtornos mentais severos e persistentes e 6 % de dependentes
químicos e investe cerca de 2,4% do orçamento do SUS na área de saúde mental
No ano de 2001, um documento
elaborado pela OPAS/OMS teve a adesão da Assembleia Geral das Nações Unidas,
que celebrou este ano o décimo aniversário dos direitos dos doentes mentais à
proteção e assistência. Deste modo, o Relatório sobre a Saúde no Mundo 2001
veio renovar a ênfase dada aos princípios proclamados, pela ONU, desde 1991. O
primeiro desses princípios é o de que não deverá existir discriminação por
doenças mentais. Outro é o de que, na medida do possível, deve se conceder, a
todo o doente, o direito de ter os cuidados necessários na sua própria
comunidade. E o terceiro é o de que todo o doente deverá ter o direito de ser
tratado de forma menos restritiva e intrusiva, num ambiente o menos limitativo
possível. Princípios, portanto, influenciados pela Reforma Psiquiátrica.
Estamos no mês de maio, o mês da Luta Antimanicomial. Dia 18, sairemos às ruas para comemorar os avanços e exigir que nossos direitos, de trabalhadores, usuários e familiares de pessoas portadoras de sofrimento mental sejam garantidos. A luta é longa, árdua, mas não
descansaremos enquanto existir um manicômio no mundo, seja fisicamente, ou nas
mentes das pessoas.
Referências:
ONOCKO-CAMPOS R.T;
FURTADO, J.P. Entre a saúde coletiva e a saúde mental: um instrumental
metodológico para avaliação da rede de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
do Sistema Único de Saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, vol
22, nº5, maio, 2006.
Organização
Pan-americana da Saúde e Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS). Relatório sobre a
Saúde no Mundo –
Saúde Mental: Nova Concepção. Nova Esperança. 2001.
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